Apresentação

A emergência de um ideário de preservação do patrimônio cultural (ambiental, edificado ou imaterial) mobilizou, nas últimas décadas, diferentes setores da sociedade, quer seja a sociedade civil organizada, os diferentes órgãos públicos ou a iniciativa privada. A conscientização sobre a importância da preservação e valorização do patrimônio cultural e as diferentes práticas sociais vinculadas à manutenção das diversas tipologias de patrimônio gerou um aumento e uma diversificação do público que interage com este acervo diversificado que compõe os múltiplos aspectos da cultura material e imaterial, ampliando as pesquisas e os debates sobre o assunto entre as diversas áreas das ciências naturais e humanas.
 
Além das reflexões e proposições sobre os atributos do patrimônio cultural, quer seja em sua dimensão material (formal e funcional) ou histórica, muitas pesquisas estão se enveredando para análises e reflexões acerca da relação entre o patrimônio cultural e os diversos agentes sociais que participam do processo de preservação, valorização e atribuição de novas formas de uso e significados deste frente à nova realidade política, econômica e sociocultural em que os bens patrimoniais se inserem. Neste sentido, vislumbram-se atualmente diversas perspectivas de análise a respeito do patrimônio cultural.

Diante da gradativa substituição do seu valor cultural, ligado originalmente ao domínio da história, da memória, da identidade, da arte e do conhecimento, por seu valor econômico, ao tornar-se um importante atrativo turístico de forte apelo estético-estilístico destinado à fruição visual do grande público, resta-nos a tarefa de analisar, interpretar e refletir sobre as transformações do patrimônio em sua dimensão material e simbólica, e sobre as novas estratégias de planejamento e gestão destes bens nas esferas municipal, estadual e federal, frente ao atual contexto neoliberal em que a associação entre o Estado e o mercado se torna cada vez mais evidente. Tais fatores produzem alterações significativas nas formas de uso e nas relações existentes entre a sociedade e o seu patrimônio, resultando em uma nova configuração territorial, quer em áreas naturais preservadas ou nos sítios históricos urbanos onde a atividade turística atua com maior intensidade.

A apreensão dessa dinâmica perpassa pela compreensão dos elementos constitutivos do espaço bem como pelas categorias espaciais de análise que auxiliam a investigação de sua lógica atual de organização nos contextos local, regional e global.

O desenvolvimento de uma perspectiva de análise geográfica do patrimônio cultural permite vislumbrar as alterações materiais relacionadas às suas dimensões formal, funcional e normativa, relacionadas às estratégias de planejamento e gestão territorial do patrimônio, em suas diversas escalas; assim como permite apreender a dimensão simbólica que envolve os novos valores (econômicos, políticos, ideológicos e culturais) atribuídos a estes bens, possibilitando, ainda, compreender o papel social desses bens para as populações locais. Neste sentido, o aprofundamento das discussões acerca do patrimônio cultural no âmbito do ensino da ciência geográfica torna-se evidente diante da necessidade de interpretação das transformações sócio-espaciais provenientes da ligação entre patrimônio, políticas públicas e mercado. Além disso, tal perspectiva fornece subsídios concretos para a análise das formas de uso e vivência da população em relação ao patrimônio cultural em seu território de referência, quer sejam os centros urbanos ou as Unidades de Conservação.

A iniciativa de promover o IV Seminário de Geografia, Turismo e Patrimônio Cultural tem por objetivo dar continuidade a esse debate iniciado em 2004 como atividade do Grupo de Pesquisa de mesmo nome (Diretório do CNPq), no sentido de divulgar as pesquisas realizadas, promover o debate e as reflexões que estão sendo desenvolvidos entre os diversos âmbitos da ciência envolvendo a questão patrimonial e sua relação com as áreas naturais, a cidade e o turismo. Objetiva também divulgar os referenciais teóricos e metodológicos utilizados pela geografia para a análise e reflexão do patrimônio cultural, possibilitando o aprofundamento dos debates e pesquisas de cunho interdisciplinar.

Esse encontro, assim como as versões anteriores, deverá promover o diálogo entre pesquisadores, planejadores e gestores ligados a universidade e aos órgãos públicos responsáveis pela gestão patrimonial, divulgando o arcabouço teórico e as práticas afins, bem como os conflitos de interesses envolvidos nas ações voltadas para a valorização e a preservação do patrimônio cultural. Da mesma forma, a participação e aproximação de pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação, professores do ensino médio e superior das redes pública e privada, representantes do poder público e da sociedade civil promoverão o aprofundamento do conhecimento teórico, prático e político sobre a relação entre o patrimônio cultural, o turismo e a geografia.